segunda-feira, julho 10, 2006

Trance.

Sempre ouço as pessoas falarem que nessas festas eletrônicas só existem drogados. Que não é possível aproveitar a festa sem estar "louco".
Esse texto aí foi escrito por um grande amigo após uma Trance. Ele não utilizou qualquer tipo de substancia "alucinógena". Seja ela legalizada ou não. Um mar de letras que engole os hipócritas e mostra o quanto é possível aproveitar as raves! Independente de qualquer coisa.
Drogas existem em qualquer lugar. Não se iluda.
Leia o texto! Desfrute! Fantasie! Se encontre!
TRANCE
(Liberdade, Desejo e Batidas) nas alturas.
Por Felipe F.

Despertador incomum em horários nada convencionais, produzindo olhares duvidosos e muitos comentários dispensáveis. Corpos e mentes são fantasiados enquanto longe dali o espetáculo se inicia. O frio é a única companhia da caravana que segue junta rumo a mais uma aventura. Os sinais de trânsito monocromáticos não impedem que o ritmo seja interrompido, o tempo a favor garante que nenhuma energia seja gasta desnecessariamente. Todos os caminhos levam ao paraíso, porém a trajetória é escolha de cada um.
O animador pode ser ouvido de longe, nem as montanhas são capazes de conter as ensurdecedoras batidas dos gigantes enquanto caminham. A busca de um lugar distante da selva de pedra evidencia um isolamento necessário, sem barreiras para os corpos, horizontes para os olhos e teto para os pensamentos. No momento da chegada a expectativa supera o frio e aumenta a velocidade dos passos. Uma obra de arte a espera do seu público excêntrico, porém exigente, atento a todos os detalhes. As decorações colocadas ao redor da arena formam uma exposição de formas e cores de dar inveja ao arco-íris, deixando os olhos hipnotizados diante daquela obra de arte. A música penetra em seu corpo sem pedir licença, domina as batidas do seu coração que acompanha como um aprendiz dedicado. Nas portas não existem filtros, não há olhares analisadores que julgam suas aparências, sejam elas a flor da pele ou internamente. Um mundo que as palavras são desnecessárias, o movimento conta cada parte da sua personalidade e suas escolhas. A poeira sobe enquanto os sorrisos desaparecem ao brilho que vem dos céus, as vozes surreais soam como palmas numa multidão de espectadores despreocupados e distraídos. As mãos que saem das sonoras criações de um artista agitam os pobres mortais como marionetes que incansavelmente acompanham um ritmo movidos a cafeína, anfetamina, adrenalina e porque não morfina.
A sensibilidade da pele aumenta, o calor que irradia dos corpos tatuados se assemelha a uma fogueira, acesa e próxima, o espaço se torna infinito e a dor apenas um sentimento conhecido pelo dicionário. No beijo as mais profundas fantasias circulam em um corpo ardente de desejo, envolvidos por fortes abraços que pulsam e transformam em argila as lágrimas que escorrem pelo rosto que agora sorri. Todas as guloseimas transpiram e se misturam a poeira que dança com o vento e se dispersa. As balas mais doces que chocolate deixam as bocas ardentes e os olhos vibrantes, cada músculo agora responde de forma individual sem noção ou bom senso. A referência ao lado é a única forma de saber se os movimentos automáticos são coerentes com as vibrações que são produzidas como eco nas mentes alucinadas.
Enquanto tudo isso acontece, o silêncio está hipnotizado em um sono profundo esperando que feitiço desapareça. No alto alguém se desperta, seus raios atravessam as nuvens enquanto se espreguiça, produzindo nos céus um espelho do que se encontra abaixo dele, que diz: “Hoje eu acordei o sol”. Seus grandes olhos azuis ainda sonolentos procuram entender o que se passa, seu sorriso amarelo aquece os corações apagados e sua respiração ofegante afasta seus lençóis de algodão, como uma refrescante brisa sua chegada é triunfal.
Os olhares que se cruzam dificilmente são almas que se beijam em silêncio. Não existe aproximação, os conhecidos se desconhecem enquanto autistas dançam ao redor da sua própria fogueira, como índios em danças místicas os pedidos são solicitados. O tempo que dança engana as horas, num piscar de olhos, agora vermelhos, desacelera. Em câmara lenta a percepção se torna mais nítida. Perfumes se misturam num coquetel de fumaça desfeitas por latas que voam geladas e deixam a sede satisfeita por um breve momento.
Uma trajetória se completa em torno dos viajantes, o que era vermelho, laranja, cor de fogo agora descansa, o feitiço no silêncio parece ter fim, a luz dos teus olhos de paz alcançam os céus, como holofotes que marcam o começo da retirada com gosto de vitória, mais um território conquistado. Testemunhas dos céus compravam o poder da liberdade, aprovam a força do desejo e reforçam as batidas nas alturas.

Um comentário:

Anônimo disse...

A-D-O-R-E-I!!!!!
Muito bacana o texto do Felipe!!!
Teve a manha total de descrever uma trance...